terça-feira, 20 de setembro de 2016

Requisitos para ser uma pessoa normal


Este é um daqueles filmes que é puro clichê, mas tudo bem. É divertido de assistir -- pelo menos enquanto o casal principal está na tela. Me fez pensar sobre como nos tornamos normais ao longo da vida. Como vamos nos ajustando aos poucos

Frequentemente tenho na mente o pensamento (e o medo) sobre como vamos nos transformando em adultos, velhos, profissionais etc... Sem perceber. Deixamos de ser vanguarda e passamos a ser conservadores. Relembrando nossa infância/juventude, vamos nos ajustando às novas condições de nosso corpo e nossa alma, reveladas pelo aprendizado de nossas experiências e pelo inevitável relógio do desenvolvimento biológico. O que era lúdico, passa a ser apenas tedioso, nos resta somente a lembrança de como aquilo era bom. Ganhamos, então, novas necessidades, porque bolinhas de sabão já não são mais tão interessantes. Bom é beijar na boca. Então, beijar na boca já não é mais tão bom assim, porque quem gosta de beijo na boca é adolescente, o que adulto gosta mesmo é 'transação aceita'... e 'é cada cozinha modulada que faz brilhar os olhos' (coisas do Facebook).

E tem o roteiro da vida: vejo meus amigos héteros, seguindo-o; conhecem sua mulher/marido, casa, a mulher é quem cuida da casa, tem filhos, é ela também quem cuida dos filhos, maridos a traem... Aquela velha história que conhecemos, com muito discurso feminista no meio (mas é só discurso mesmo). Tornam-se casais normais. Não posso negar, contudo, que existe uma grande diversidade de possibilidades, mas ainda são exceções, somos mesmo guiados por esse ideal da família feliz. Até nós, homossexuais, caímos nesta mesmice e acreditamos no 'felizes para sempre', lutamos para poder ter o direito ao casamento, à adoção. Me pergunto o quanto dessa necessidade é biológica e o quanto é pura imposição cultural.

É certo que viramos adultos, passamos a fazer parte de uma cultura própria da vida adulta. Nosso pensamento já não é idealista, romântico, passamos a ser pragmáticos. A ciência pela ciência deixa de ser seu objetivo maior, o importante mesmo é publicar, suas metas tornam-se não desvendar os mistérios da natureza, mas sim, publicar na Science. A realidade bate na porta e você quer cumprimentá-la a todo custo. Não precisa ser o emprego dos sonhos, basta ter um salário digno, e o importante é mesmo a mensagem 'transação aceita'. E algumas compensações pelos sonhos não realizados. Já não lembramos mais dos pensamentos idealistas, fomos engolidos por essa nova cultura, nos tornamos normais.

A verdade é que somos seres sociais, precisamos mesmo nos ajustar, ser normais. O quanto normal seremos? 100%, 90%, 30%... Não importa! Sempre teremos aquela nossa lista de requisitos para ser normal - variando um pouco ao longo das diferentes culturas e subculturas - e tentaremos nos encaixar, mesmo se discursarmos o contrário. Eu quero ser normal. Você não?